quinta-feira, 2 de abril de 2009

Antigo Egito

Pirâmides do Egito Antigo Egito é a expressão que define a civilização da Antiguidade que se desenvolveu no canto nordeste do continente africano, tendo como fronteira a norte o Mar Mediterrâneo, a oeste o deserto da Líbia, a leste o deserto da Arábia e a sul a primeira catarata do rio Nilo.

A história do Antigo Egito inicia-se em cerca de 3150 a.C., altura em que se verificou a unificação dos reinos do Alto e do Baixo Egito, e termina em 30 a.C. quando o Egito, já então sob dominação estrangeira, se transformou numa província do Império Romano, após a derrota da rainha Cleópatra VII na Batalha de Ácio. Durante a sua longa história o Egito conheceria três grandes períodos marcados pela estabilidade política, prosperidade econômica e florescimento artístico, intercalados por três períodos de decadência. Um desses períodos de prosperidade, designado como Império Novo, correspondeu a uma era cosmopolita durante a qual o Egito dominou, graças às campanhas militares do faraó Tutmés III, uma área que se estendia desde Curgos (na Núbia, entre a quarta e quinta cataratas do rio Nilo) até ao rio Eufrates.

A civilização egípcia foi umas das primeiras grandes civilizações da Humanidade e manteve durante a sua existência uma continuidade nas suas formas políticas, artísticas, literárias e religiosas, explicável em parte devido aos condicionalismos geográficos, embora as influências culturais e contatos com o estrangeiro tenha sido também uma realidade.

Os Antigos Egípcios foram o resultado de uma mistura das várias populações que se fixaram no Egito ao longo dos tempos, oriundas do nordeste africano, da África Negra e da área semítica.

A questão relativa à "raça" dos antigos Egípcios é por vezes geradora de controvérsia, embora à luz dos últimos conhecimentos da ciência falar de raças humanas revela-se um anacronismo. Até meados do século XX, por influência de uma visão eurocêntrica, considerava-se os antigos Egípcios praticamente como brancos; a partir dos anos 50 do século XX as teorias do "afro-centrismo", segundo as quais os Egípcios eram negros, afirmaram-se em alguns círculos[5]. Importa também referir que as representações artísticas são frequentemente idealizações que não permitem retirar conclusões neste domínio.

Os Egípcios tinham consciência da sua alteridade: nas representações artísticas dos túmulos os habitantes do vale do Nilo surgem com roupas de linho branco, enquanto que os seus vizinhos líbios e semitas com roupas de lã.

A língua dos Egípcios (hoje uma língua morta) é um ramo da família das línguas afro-asiáticas (camito-semíticas). Esta língua é conhecida graças à descoberta e decifração da Pedra de Roseta, onde se encontra inscrito um decreto de Ptolomeu V Epifânio (205-180 a.C.) em duas línguas (egípcio e grego) e em três escritas (caracteres hieroglíficos, escrita demótica e alfabeto grego). Em 1822 o francês Jean-François Champollion decifrou a escrita hieroglífica e a demótica que se encontravam na pedra, permitindo assim o acesso aos textos do Antigo Egipto e o começo da Egiptologia.

O número de habitantes do Antigo Egipto oscilou segundo as épocas. Durante o período pré-dinástico (4500-3000 a.C.) a população rondaria os centenas de milhares; durante o Império Antigo (século XVII a XII a.C.) situar-se-ia nos dois milhões, atingindo os quatro milhões por altura do Império Novo. Quando o Egipto se tornou uma província romana a população deveria ser cerca de sete milhões. Esta população habitava nas terras agrícolas situadas nas margens do Nilo, sendo escassas as populações que viviam no deserto. Ao contrário das civilizações da Mesopotâmia, o Antigo Egipto não desenvolveu uma importante rede urbana.

A situação das mulheres no Egito é claramente resumida no papel que lhes é atribuído na decoração mais antiga de túmulos. No cimo da hierarquia está a esposa, ou, por vezes, a mãe, do proprietário do túmulo, vestida de forma simples mas elegante, sentada comodamente com o marido a uma mesa de oferendas, numa estátua de grupo ou numa porta falsa. Por vezes, ela acompanha o marido quando este observa cenas de trabalho, mas é com mais frequencia representada quando o casal apresenta oferendas, podendo esta distinção indicar que o lugar dela era em casa. No outro extremo encontram-se cenas ou estatuetas de ervas e de mulheres ocupadas em trabalho servis, fazendo pão e cerveja, fiando ou tecendo. Também estas são atividades sedentárias, provavelmente levadas a cabo nos aposentos domésticos de uma casa ou propriedade. A cor da pela das mulheres, amarela, indica, entre outras coisas, uma menor exposição ao sol do que o vermelho dos homens e, por isso, uma existência mais fechada - como acontece com burocratas masculinos de sucesso.

É possível que não fosse seguro às mulheres aventurarem-se a sair. Num texto póstumo, Ramsés III afirma: "Tornei possível à mulher egípcia seguir o seu caminho, podendo as suas viagens prolongar-se até onde ela quiser, sem que qualquer outra pessoa a assalte na estrada", o que implica não ter sido sempre este o caso.

Nos túmulos mais antigos as mulheres estão ausentes dos trabalhos mais importantes e das diversões mais agradáveis, mas também não têm de realizar as tarefas mais duras. os homens, por exemplo, fazem vinho, o que é mais árduo do que fazer cerveja. Para além das cenas de tocadoras de instrumentos e de dançarinas muito acrobáticas, o papel das mulheres nos períodos mais antigos parece ter sido muito modesto, embora isso possa ser devido a não podermos interpretar integralmente as fontes. No Império Novo as mulheres passaram a ter uma importância muito maior, o seu vestuário a ser mais esmerado e o conteúdo erótico das cenas em que são representadas mais definido, se bem que ainda muito codificado. O período tardio regressa praticamente ao antigo decoro.

As mulheres não tinham quaisquer títulos importantes e, à exceção de alguns membros da família real e das rainhas reinantes, tinham pouco poder político. O título que detinham mais vulgarmente era o de "senhora da casa", termo de respeito que talvez signifique pouco mais do que "Srª Dona". Quase todas eram analfabetas e, portanto, excluídas da burocracia - a que é, de qualquer modo, pouco provável que tivessem aspirado - e da maior parte das áreas intelectuais da cultura. Fato sintomático do atrás referido é o de a idade a sensatez serem qualidades respeitadas nos homens, representados como estadistas idosos e corpulentos, mas não as mulheres. Nas representações dos túmulos não se distingue sequer a mãe de um homem da sua mulher, sendo ambas figuras jovens. O modo como são representadas as mulheres é, obviamente, parte da interpretação que os homens faziam delas e evidência um estado de coisas ideal. Na realidade, a influência das mulheres talvez não fosse tão circunscrita e podem ter desempenhado papéis muito mais variados do que as provas parecem sugerir.

As estruturas familiares, por exemplo, parecem extremamente simplificadas. As normas da decoração de túmulos e estelas não deixam qualquer espaço para a viúva ou viúvo, o divorciado, os homossexuais ou para qualquer desvio em relação à monogamia - e, no entanto, sabe-se que todos eles ocorreram. Há uma história que conta o romance entre um rei e um oficial do exército e há episódios homossexuais no mito de Hórus e de Seth. Nos Impérios Antigo e Médio havia alguma poligamia e o rei podia ter muitas mulheres, embora apenas uma - para além da mãe, se ainda fosse viva - tivesse o título de "grande esposa do rei".

Geografia

mapat.svg O território no qual se desenvolveu a civilização do Antigo Egito corresponde, em termos tradicionais, à região situada entre a primeira catarata do rio Nilo, em Assuão, e o Delta do Nilo. O Sinai, situado a leste do Delta do Nilo, funcionou como via de acesso ao corredor sírio-palestiniano, designação atribuída à faixa de terra que ligava o Egito à Mesopotâmia. A oeste do Delta, surge o deserto da Líbia (ou deserto ocidental), onde se encontram vários oásis dos quais se destacam o de Siuá, Kharga, Farafra, Dakhla e Bahareia. O deserto da Árabia (ou deserto oriental), estende-se até ao Mar Vermelho. A sul da primeira catarata situava-se a Núbia, cuja cultura e habitantes já eram vistos como estrangeiros. Em diversos momentos, o Egito ultrapassou a primeira catarata e tomou posse de territórios Núbios, onde obtinha diversas matérias-primas.

O território do Antigo Egito não deve ser por isso confundido com o território da moderna República Árabe do Egito, dado que esta se estende para sul da primeira catarata do Nilo até ao paralelo 22ºN e inclui partes do deserto da Líbia e do deserto da Arábia, bem como a península do Sinai.

Esta civilização desenvolveu-se graças à existência do rio Nilo, sem o qual o Egipto não seria diferente dos desertos que o cercam. Neste sentido, é bem conhecida a frase do historiador grego Heródoto (que visitou o Egito em meados do século V a.C.), segundo a qual o Egipto era uma dádiva do Nilo, retomando o historiador uma afirmação anterior de Hecateu de Mileto.

Os dois afluentes principais do rio Nilo são o Nilo Branco (que nasce no Lago Vitória) e o Nilo Azul (oriundo dos planaltos da Etiópia). O Nilo corre de sul para norte, desaguando no Mar Mediterrâneo, com uma extensão aproximada de 6695 quilômetros. Todos os anos as inundações do rio, que se iniciavam no Egito na segunda metade de Julho e terminavam em meados de Outubro, depositavam nas margens uma terra negra que fertilizava o solo e que permitiu a prática da agricultura (atualmente o fenômeno das inundações do Nilo já não existe no Egito graças à construção da barragem de Assuão). Os Egípcios dependiam portanto deste rio e das inundações para a sua sobrevivência. Para além disso, o Nilo era a principal via de transporte, quer de pessoas, quer de materiais. Apesar da dependência do Nilo, o Antigo Egito não deve ser considerado apenas um dom de condições geográficas especiais, como afirmou Heródoto, que talvez quisesse, com esta afirmação, explicar por que o Egito já era uma grande civilização enquanto os gregos ainda viviam em aldeias isoladas. O ponto fundamental é que o Antigo Egito também só existiu graças ao seu sistema de governo centralizado, que organizava a enorme mão-de-obra constituída pela massa de camponeses, e ao engenho de seus construtores, que, desde épocas remotas, edificaram barragens e canais de irrigação para tirar o máximo proveito das águas do Nilo.

Primórdios

Em tempos recuados o Egito foi uma savana. Quando se inicia o Neolítico, por volta de 6000 a.C., o território já tinha adquirido as características áridas que o caracterizam atualmente. As principais culturais do Neolítico no Egito estão documentadas no Faium e em El-Omari (norte) e em Tasa e Mostagueda (sul).

O período pré-dinástico (período anterior às dinastias históricas) vê nascer no Alto Egito três culturas: a badariense, a amratiense e gerzeense. Esta última civilização acabará por se estender a todo o Egito. Nesta época produzem-se instrumentos de cobre e pedra, assim como uma cerâmica vermelha decorada com motivos geométricos e animais estilizados.

Teria sido Narmer, um rei do Alto Egito, quem unificou as duas regiões por volta de 3100 a.C. Uma placa de xisto, conhecida como a Paleta de Narmer, comemora este evento. Um dos lados desta placa mostra Narmer usando a coroa do Alto Egito (a coroa branca), enquanto que o outro lado mostra-o com a coroa do Baixo Egito (a coroa vermelha) num cortejo triunfal. Narmer é identificado por alguns egiptólogos com Menés, nome pelo qual é designado o primeiro rei do Egito na lista de Maneton.

Império Antigo e Primeiro Período Intermediário

Este período iniciou-se com a III dinastia, existindo algumas dúvidas quanto a quem terá sido o seu primeiro rei, se Sanakht ou Djoser (este último terá sido filho ou irmão do último rei da II dinastia).

A III dinastia manteve a capital em Mênfis, cidade que se transformou num grande centro econômico e cultural.

Khufu. Única representação conhecida do rei da grande pirâmide (Museu Egípcio).

O rei Djoser apoiou-se na sua acção governativa no vizir (uma espécie de "primeiro-ministro") Imhotep. Para além de vizir, Imhotep foi também arquitecto e muito mais tarde foi transformado em deus, considerado filho da divindade Ptah. Foi ele quem projectou a construção da denominada "pirâmide em degraus" em Sakara (embora do ponto de vista geométrico não se trata de uma pirâmide), necrópole na qual se situam a maioria dos túmulos reais do Império Antigo. Esta "pirâmide", com 61 metros e que resultou da sobreposição de seis mastabas, seria o primeiro passo na evolução de uma arquitetura cada vez mais grandiosa que atinge o seu apogeu durante a IV dinastia, com as Pirâmides de Guiza. Estava integrada num conjunto mais amplo, um santuário onde os sacerdotes realizavam os ritos funerários para o rei defunto.

A IV dinastia teve em Seneferu o seu primeiro rei que conduziu campanhas militares contra os habituais inimigos dos egípcios (Núbios, Líbios e Beduínos). Destas lutas resultou o domínio do Egipto sobre a Baixa Núbia. O segundo rei desta dinastia, Khufu, (Quéops) ordenou a construção da maior das três pirâmides de Guiza (Gizé), que possui cerca de 2,3 milhões de blocos de pedras e 146, 5 metros de altura (atualmente possui apenas 139 metros de altura). A construção das pirâmides encontrava-se dependente de um clima de paz e estabilidade. Ao contrário de uma ideia feita, que já se encontrava presente nos autores da Antiguidade, estas pirâmides não foram construídas por escravos, mas por trabalhadores desocupados durante o período de cheias do Nilo. Segundo as concepções da época, o rei era um intermediário entre os deuses e os seres humanos; assim participar na construção das pirâmides que abrigariam o corpo do rei era considerado como um ato de piedosa religiosa.

Na V dinastia ocorre a afirmação do clero de Heliópolis, cidade próxima de Mênfis, passando os reis a considerarem-se filhos do deus Rá. Este deus adquiriu grande importância e para ele foram construídos estruturas arquitectónicas conhecidas como templos solares, dos quais apenas foram descobertos dois, o de Userkaf e de Niuserré.

A VI dinastia, composta por sete soberanos (entre os quais possivelmente a primeira mulher a comandar o Egito, Nitócris ) é geralmente considerada a última dinastia do Império Antigo. Durante a parte final da dinastia, e particularmente durante o longo reinado de Pepi II (que teria durado 94 anos), assiste-se a uma decadência do poder real. Os administradores das províncias, os nomarcas, tinham-se tornado bastante poderosos e independentes do poder central.

O Primeiro Período Intermediário assistiu à afirmação de duas dinastias rivais, a de Heracleópolis Magna (Baixo Egito) e a de Tebas (Alto Egito). As mudanças climáticas a que o território foi sujeito neste período, que tornaram o clima mais seco, provocaram fracas colheitas e a fome.

Império Médio

Mentuhotep II, rei de Tebas, conseguiu reunificar o Egito, fixando a capital em Tebas. Amenemhat I (ou Amenemés), inicia a XII dinastia, transladando a capital para Iti-taui (nome que significa "aquela que conquista o duplo país"), a sul de Mênfis. Constrói também fortalezas no delta e na região a oeste cujo objetivo era evitar os ataques estrangeiros. Progressivamente, os nomarcas perderam a sua autonomia local e submetera-se ao poder dos reis.

O sucessor de Amenemhat I, Senuseret I (Sesóstris), associado ao trono ainda durante a vida do seu pai, teve como preocupação assegurar o controlo das minas da Núbia. Amenemhat III, sexto rei da XII dinastia, ordenou a realização de grandes trabalhos na área do oásis do Faium, que se tornaria um importante centro agrícola. Em Hawara, perto deste óasis, Amenemhat mandou construir um grande templo funerário, que Heródoto considerava mais belo que as grandes pirâmides e que está hoje perdido devido à sua destruição. O último soberano desta dinastia foi uma mulher, Sebekneferu, a primeira mulher cujo governo do Egito é atestado com segurança.

O Egito do Império Médio manteve relações diplomáticas com Fenícia e com Creta, tendo também realizado expedições comerciais ao Punt.

A XIII dinastia, com dezassete faraós - o que revela uma certa instabilidade política - assistiu à tomada das fortalezas do sul do Nilo pela Núbia. Por volta de 1800 a.C. povos do Médio Oriente fixam-se na região oriental do Delta. Em consequência desta invasão os soberanos egípcios deixam o delta, a caminho do sul do país.

Segundo Período Intermediário

Os egípcios referiam-se aos povos semitas que se fixaram no delta como Heka-khasut, "chefes de terras estrangeiras". Estes povos são conhecidos pelo seu nome grego, Hicsos. Os Hicsos eram povos oriundos da região da Síria que progressivamente usurparam o poder, tomando o título de faraós. Dominaram o Egito a partir da sua capital, Aváris, no nordeste do delta. A XV e XVI dinastias da história do Antigo Egito foram constituídas por Hicsos.

Os Hicsos introduziram elementos novos na civilização egípcia como o cavalo, os carros de guerra, novos métodos de fiação e tecelagem e novos instrumentos musicais.

A XVII dinastia, sediada em Tebas, era uma dinastia nacional, contemporânea à dos Hicsos. Se de início se tornam vassalos dos Hicsos, aos poucos começam a expulsá-los.

Império Novo

Ahmés (ou Amósis), primeiro rei da XVIII dinastia, conclui a tarefa de expulsão dos Hicsos, dando início ao Império Novo. A reunificação do país foi realizada a partir da cidade de Tebas, que seria a capital do Egito durante a maior parte deste período. Ahmés esforçou-se por melhorar a economia, tendo as fronteiras do país sido alargadas para oeste e para o sul. Este rei iniciou uma política expansionista e militarista que seria continuada pelos seus sucessores. Durante a XVIII Dinastia o Antigo Egito controlaria territórios que compreendem o que é hoje o Sudão, bem como a região da Palestina e da Síria, até ao rio Eufrates.

Tutmés III, quinto rei desta dinastia, foi talvez o melhor representante desta tendência imperalista, com as suas dezessete campanhas militares na região da Síria-Palestina. Hatchepsut, a sua madrasta, tinha governado o Egito na sua menoridade. Hatchepsut tinha sido esposa e meia-irmã de Tutmés II, pai de Tutmés III. De início a rainha opta por governar na qualidade de representante de Tutmés III, mas em poucos anos decide adotar títulos reservados aos faraós (como "Senhora dos Dois Países"), mandando erguer dois obeliscos em Karnak (ato reservado aos faraós). Para legitimar o seu governo, Hatchepsut apresentou-se como filha de Amon, deus que se teria unido à sua mãe. Foram duas década marcadas em geral pela paz, com o envio de uma expedição ao Punt. Após a morte de Hatchepsut, Tutmés III dedicou-se a apagar as inscrições que continham o nome da madrasta. Foi sucedido pelo seu filho Amen-hotep II, que foi por sua vez sucedido por Tutmés IV. Amen-hotep III governou durante quarenta anos, numa era que seria marcada pela paz, prosperidade e pelo florescer das artes.

Estátua de Ramsés II em Abu Simbel.

O seu filho, Amen-hotep IV, inicia uma revolução religiosa encaminhada no sentido do "monoteísmo", na qual o culto deveria ser reservado a Aton, o disco solar. Este faraó, cuja esposa foi a famosa Nefertiti, alterou o seu nome para Akhenaton ("O Esplendor de Aton") e abandonando Tebas, fixa-se numa nova capital mandada por si edificar, Akhetaton ("Horizonte de Áton"), a atual Amarna (por esta razão este conturbado período é designado como o "período de Amarna"). Os sucessores de Akhenaton, entre os quais o "faraó-menino" Tutankhamon, conhecido pelos tesouros do seu túmulo, abandonaram estas concepções religiosas, retornando às antigas.

Ramsés II, terceiro rei da XIX dinastia, entrou em guerra com os Hititas da Ásia Menor por causa do controlo da Síria. Na Batalha de Kadesh nenhuma das partes se consagrou vencedora, apesar das fontes egípcias apresentarem o episódio como uma vitória do país. O conflito foi terminado com um tratado de paz, o primeiro de que há conhecimento na história da humanidade. Os Egípcios e os Hititas dividem o controlo daquela região e Ramsés casa com uma das filhas do rei hitita. Foi também Ramsés II que ordenou a construção dos templos de Abu Simbel. Para aproximar-se de seus inimigos e dos territórios que pretendia dominar, Ramsés II mandou construir uma nova capital, perto do delta do Nilo. Esta magnífica cidade, a que Ramsés deu o nome de Pi-Ramsés, tinha uma incrível estrutura militar, com um grande quartel-general que abrigava, inclusive, cavalos para a guerra e um complexo industrial bélico que produzia todo o tipo de armas e também carros de batalha. Ramsés II também dispunha de uma rede de fortalezas e um exército profissional bem pago. Ramsés III, da XX dinastia, teve de combater a invasão dos Povos do Mar e dos Líbios, que conduziram o Egito a um novo período de decadência. Os últimos reis da XX dinastia tiveram um papel apagado.

Terceiro Período Intermediário e Época Baixa

Durante o Terceiro Período Intermediário o Egito é dominado por algumas dinastias de origem estrangeira. A partir da cidade de Tânis a XXI dinastia governou apenas o Delta, enquanto que no sul existia uma dinastia paralela composta pelos sumo sacerdotes de Amon. Os membros da XXII e XXIII dinastias são de origem líbia, embora já tivessem adotado a cultura egípcia. No século VIII a.C., a região da Alta Núbia, o Kush, conquista o Egito, onde instala um dinastia, a XXV.

Os Assírios acabariam por derrotar a dinastia núbia, impondo como rei Psametek I (primeiro soberano da XXVI dinastia), um príncipe da cidade de Sais, no Delta. Contudo, Psametek acabará por se rebelar contra os Assírios, tendo reunificado o país. O último rei da XXVI dinastia, Psametek III, seria derrotado pelos Persas de Cambises II que ocupam o Egipto a partir de 525 a.C. e constituem a XXVII dinastia.

Templo de Edfu dedicado ao deus Hórus, uma obra construída durante a era ptolomeica.

A invasão de Cambises ficou conhecida pela estratégia aplicada pelos persas: sabendo que os Egípcios tinham verdadeiro culto e temor aos gatos, Cambises colocou, a frente de cada linha de invasão, balaios repletos de gatos, que fizeram com que a população recuasse e não resistisse tanto à invasão.

Época Greco-romana

Em 404 a.C. os Egípcios conseguiram reconquistar o poder, mas os Persas tomam de novo o país em 343 a.C. Em 332 a.C. Alexandre Magno conquista o Egito; quando morre, em 323 a.C., Ptolemeu, um dos seus generais, torna-se governador e em 305 a.C. rei. Ptolemeu, de origem macedônia, dá origem à dinastia dos Lágidas que governa o Egito nos próximos três séculos. A última representante desta dinastia foi a famosa rainha Cleópatra VII, derrotada em 31 a.C. pelos Romanos na Batalha de Ácio. Em 30 a.C. o Egito transformou-se numa província de Roma, administrada por um prefeito de origem equestre. Enquanto província, o Egito teve uma importância fundamental para Roma, pois era do seu território que vinha o cereal do império.

Sociedade

A sociedade do Antigo Egito apresentava uma estrutura fortemente hierarquizada. Em termos gerais podem distinguir-se três níveis com uma importância decrescente: o nível composto pelo faraó, nobres e altos funcionários; o nível constituído por outros funcionários, por escribas, altos sacerdotes e generais; e por último, o nível composto pelos agricultores, artesãos e sacerdotes, onde se enquadrava a larga maioria da população.

No período mais antigo da história egípcia os altos cargos da administração permaneciam dentro da família real. Apenas mais tarde é que os cargos passaram para uma elite e tornaram-se hereditários. A possibilidade de ascender a um cargo em função de mérito também existiu. A hereditariedade nas ocupações era característica do Antigo Egito: esperava-se que um filho seguisse a profissão do pai.

Apesar de ser praticamente igual ao homem do ponto de vista legal, a mulher no Antigo Egito estava relegada a uma posição secundária. Os seus papéis principais eram os de esposa, mãe ou amante. Encontraram-se em geral excluídas dos cargos de administração e do governo, com exceção de algumas rainhas que governaram o Egito como último recurso (enquanto regentes na menoridade do faraó ou em casos em que o faraó não teve filhos do sexo masculino).

Uma importante esfera de ação da mulher era a religiosa. Durante a Época Baixa o cargo de adoradora divina de Amon em Tebas implicou uma certa dose de poder e riqueza; porém, as mulheres que ocuparam este cargo foram em geral filhas ou esposas do faraó.

Um casal com o seu filho (IV Dinastia).

O casamento era monogâmico e não era sancionado pela religião. Não existia uma cerimônia de casamento, nem um registro deste. Aparentemente bastava um casal afirmar que queria coabitar para que a união fosse aceite. Os homens casavam por volta dos dezesseis, dezoito anos e as mulheres por volta dos doze, catorze anos. A infidelidade feminina era mal vista e poderia ser motivo de divórcio. Os homem com uma posição econômica mais elevada poderia ter, para além da esposa legítima (nebet-per, "a senhora da casa"), várias concubinas, o que era visto como um sinal de riqueza. A harmonia familiar era bastante valorizada pelos Egípcios: vários textos da literatura sapiencial recomendam o homem a tratar bem a sua esposa e a ter vários filhos.

Na corte faraônica existiram casos de bigamia e de poligamia, onde o rei, para além da esposa principal, mantinha várias esposas secundárias e amantes. Um dos casos mais conhecidos foi o de Ramsés II, que para além de ter tido como esposa principal Nefertari, teve outras mulheres; destas uniões teriam mesmo resultado 150 filhos.

Homens e mulheres usavam adornos, como pulseiras, anéis e brincos. Estes adornos continham pedras preciosas e frequentemente amuletos, dado que os Egípcios eram um povo supersticioso, que acreditava por exemplo na existência de dias nefastos. Os dois sexos usavam também maquiagem, que não cumpria apenas funções estéticas, mas também higiênicas. As pinturas para os olhos eram de cor verde (malaquite) e negra. Óleos e cremes eram aplicados sobre o cabelo e a pele como forma de hidratação num clima seco e quente. Alguns egípcios rapavam completamente o cabelo (para evitar piolhos) e usavam perucas.

A escravatura não teve no Antigo Egito a dimensão que alcançou em outras civilizações da Antiguidade, como na Grécia ou em Roma. Foi bastante expressiva no Império Novo, em resultado das campanhas militares egípcias na Ásia, das quais resultaram muitos prisioneiros. Os escravos poderiam trabalhar no exército, no palácio real e nos templos. As suas condições de vida não eram muito diferentes das dos trabalhadores livres; podiam arrendar terras e casar com mulheres livres. Um escravo poderia ser libertado a qualquer momento, bastando para tal uma declaração do dono perante testemunhas.

Governo

O topo da pirâmide política e social do Antigo Egito era ocupado pelo rei ou faraó. O rei vivo era encarado como uma personificação do deus Hórus, enquanto que o rei morto que o tinha antecedido era associado a Osíris, pai de Hórus, independentemente de existir uma relação familiar entre soberanos. De uma maneira geral não se desenvolveu um culto em torno da pessoa do rei, com exceção de alguns monarcas do Império Novo. A partir da V dinastia os reis apresentam-se também como filhos de Ré, o deus solar. Durante o Primeiro Período Intermediário a imagem divina do rei enfraqueceu-se, tendo a mesma sido restaurada a partir da XII dinastia para atingir o seu apogeu na XVIII dinastia.

Em teoria o rei era dono de tudo, inclusive dos seus súbditos. Era o comandante supremo do exército, funcionando também como a máxima autoridade judicial: os Egípcios poderiam recorrer de uma decisão judicial ao rei. Era igualmente o sumo-sacerdote do Egito, o elo entre os homens e os deuses. Como não era fisicamente possível ao rei está presente em todos os templos egípcios para celebrar os cultos, este delegava o seu poder religioso aos sacerdotes que conduziam as cerimônias em seu nome.

Embora existissem estas concepções "absolutistas" da figura do rei, este convivia com limitações ao seu poder, oriundas de conselheiros, funcionários, dos nobres, das famílias ricas, do clero e dos soldados, meios nos quais se teciam as intrigas políticas que poderiam conduzir ao assassinato de um rei e ao início de uma nova dinastia.

Para além do seu nome de nascimento, os reis egípcios tinham outros nomes. A partir da V dinastia a titulatura do reis incluía cinco nomes reais: nome de Hórus, nome das Duas Senhoras, nome de Hórus de Ouro, prenome e nome; estes dois últimos nomes eram inscritos no interior de uma cartela.

Os reis do Antigo Egito são habitualmente denominados como "faraós", mas esta palavra, que deriva de per-aá, não foi a mais usada no Egito para se referir ao monarca; os Egípcios usavam termos como nesu (rei) ou neb (senhor). O termo per aá, que significa "grande morada", aplicava-se de início ao palácio real; só a partir da XVIII dinastia é que o termo foi também usado para se referir à pessoa do rei e em larga medida por influência dos povos estrangeiros.

A rainha era denominada hemet nesut, "esposa do rei"; tinha em geral uma origem real, sendo por vezes irmã do rei, mas filha de outra mãe. Durante a época do Império Novo algumas rainhas consortes desempenharam um importante papel político junto dos esposos, como Ahmés-Nefertari, Tié ou Nefertiti. Habitualmente o filho mais velho da rainha principal sucedia ao pai.

O rei era detentor de uma estética própria, resultado do uso de certas roupas e de determinadas insígnias que lhe estavam reservadas. No queixo colocava uma barba postiça, delgada e retangular (que a própria Hatchepsut, apesar de ser uma mulher, apresenta em algumas representações artísticas) e na cabeça usava um pano, o "nemes", à frente do qual encontrava-se uma serpente denominada uraeus que se acreditava poder repelir os seus inimigos. O soberano possuía várias coroas, vistas como objetos detentores de uma energia própria, sendo as mais importantes a coroa branca do Alto Egito (hedjet) e a coroa vermelha do Baixo Egito (decheret), que combinadas formavam o pschent ou coroa dupla. Para além das coroas, existiam os cetros, dos quais se destacam o hekat (uma espécie de báculo) e o nekhakha (um látego). O faraó poderia ser simbolicamente representado como uma esfinge, e era associado a animais como a pantera, o leão e o boi.

A figura política mais importante ao seguir ao rei era o tjati, cargo habitualmente traduzido como "vizir", o que constitui um erro, visto que os vizires só surgem muito mais tarde e entre as dinastias islâmicas. O detentor do cargo, que surgiu a partir da IV dinastia, possuía poderes judiciais, supervisionava os grandes projetos de construção e aconselhava o rei. Em alguns períodos da história egípcia existiram dois tjati, um para o Alto Egito e outro para o Baixo Egito. O tjati era tido em grande consideração pela população, que se referia a ele como o "amigo do Egito".

O Antigo Egito dividia-se em nomos ou províncias (em egípcio, sepat). Durante a maior parte da história egípcia existiram 42 nomos, 20 no Baixo Egito e 22 no Alto Egito. À frente de cada nomo encontrava-se um governador (nomarca), cargo de início obtido por nomeação para passar a ser hereditário. Estes governadores, que em determinados períodos da história egípcia governavam um estado dentro do estado, cumprem as ordens do rei, conduzem os trabalhos públicos e aplicam a justiça.

Economia

agricultura A economia do Antigo Egito assentava na agricultura. Em teoria todas as terras pertenciam ao rei, mas a propriedade privada foi uma realidade. Os documentos revelam que a partir da IV dinastia afirmou-se uma tendência para a privatização do solo, resultado de doações de terras por parte do rei aos funcionários ou da aquisição desta por parte dos mesmos. Por altura da V dinastia os templos possuíam também grandes propriedades.

Quando terminavam as inundações do Nilo surgiam nas aldeias egípcias uma equipa de funcionários que marcava as bordas das terras que poderiam a partir de então ser cultivadas pelos camponeses. A plantação decorria no mês de Outubro, sendo as sementes fornecidas aos agricultores pelo palácio real. As culturas mais importantes eram o trigo (tipo emmer) e cevada, que permitiam fazer o pão e a cerveja, alimentos que eram a base da alimentação egípcia.

Os agricultores lavravam a terra com um arado puxado por bois, abriam canais e levantavam diques. A época das colheitas ocorria em Abril, altura em que as espigas eram levadas para a eira, onde as patas dos bois as debulhavam. Uma vez separados os grãos da palha, estes eram colocados em sacas que eram enviadas para os celeiros reais. Estes celeiros armazenavam as colheitas que eram distribuídas pelos funcionários e pela população em geral.

A população que não trabalhava nos campos dedicava-se a várias tarefas como a produção de pão e mel, a fabricação de cerveja, a olaria e a tecelagem. A pesca era praticada ao anzol ou com rede.

olariaO subsolo do Antigo Egito era rico em materiais de construção, bem como em pedras preciosas. Entre os primeiros destacavam-se os granitos cor de rosa das pedreiras do Assuão, o alabastro das proximidades de Amarna, o pórfiro e os basaltos. As pedras preciosas eram extraídas do Sinai (turquesa e malaquite) e dos desertos do leste e do oeste (quartzo, feldspato verde, ametista e ágata).

Desde a época do Império Antigo que o Egito tinha contactos comerciais com a região siro-palestinense (Biblos), de onde vinha a madeira, escassa e necessária no Egito para fabricar o mobiliário e caixões. Da Núbia o Egito exportava o ébano, as plumas de avestruz, as peles de leopardo, incenso, marfim e sobretudo o ouro. Todo o comércio estava baseado na permuta de bens, já que a moeda só surgiu muito mais tarde, na Lídia do século VIII ou VII a.C.

Também produzia: linho, papiro e legumes.

Religião

Pendente em ouro de Osorkon II (XXII dinastia). O deus Osíris (ao centro) acompanhado pelo seu filho Hórus e esposa, Ísis, formando uma tríade.

Não existiu propriamente uma religião entre os Egípcios, no sentido contemporâneo da palavra (a própria palavra "religião" não existia na língua egípcia).

A cultura egípcia era impregnada de religiosidade e a versão oficial da história egípcia era de caráter religioso. Em períodos mais recentes, até a própria economia se organizava à volta dos templos - o que não significa, necessariamente, que se tivesse tornado mais religiosa, já que os templos não eram, possivelmente, muito diferentes de outros senhorios. fosse como fosse, o que é claro é que o padrão de secularização, que temos tendência a tomar por certo no desenvolvimento das sociedades, não estava presente. A instituição central da monarquia acabou por perder o seu carisma, mas noutros aspectos tornou-se, de forma nítida, em vários aspectos: o oficial, de que sabemos bastante, a esfera funerária, que está também bem representada, e as práticas cotidianas da maioria da população, separadas, em larga medida, do culto oficial e mal conhecidas.

A religião egípcia é tradicionalmente classificada como uma religião politeísta, conhecendo-se mais de duas mil divindades. Tratava-se de uma religião nacional, sem aspirações universais, que não era detentora de uma escritura sagrada. O mais importante na religiosidade egípcia não eram as crenças, mas o culto às divindades; assim, a religião egípcia preocupava-se mais com a ortopraxia do que com a ortodoxia. Alguns deuses eram adorados localmente, enquanto que outros assumiam um caráter nacional, sobretudo quando estava associados com determinada dinastia.

Os deuses eram ordenados e hierarquizados em grupos. O agrupamento básico era em três deuses, em geral um casal e o seu filho ou filha (tríade). Assim, por exemplo, a tríade da cidade de Tebas era composta por Amon, Mut e Khonsu. Os agrupamentos de divindades mais importantes foram a Enéade de Heliópolis e a Ogdóade de Hermópolis, que eram acompanhados por um relato sobre a criação do mundo.

As representações dos deuses poderiam ser antropomórficas (forma humana), zoomórficas (forma de animal) ou uma combinação de ambas. Contudo, os Egípcios em momento algum acreditaram, por exemplo, que o deus Hórus, muitas vezes representado com um homem com cabeça de falcão, tivesse de fato aquele aspecto. A associação dos deuses com determinados animais relacionava-se com a atribuição ao deus de uma característica desse animal (no caso de Hórus a rapidez do falcão).

Os templos no Antigo Egito eram a morada da divindade na terra. Ao contrário dos templos religiosos de hoje em dia, eles não eram acessíveis às pessoas comuns: apenas poderiam penetrar nas suas regiões mais sagradas, o faraó e os sacerdotes. Cada templo era dedicado a uma divindade e dentro dele achava-se a estátua dessa divindade guardada no naos; diariamente a estátua era lavada, perfumada, maquilhada e alimentada pelos sacerdotes. Em determinadas alturas do ano, a estátua saía do templo numa procissão, à qual a população assistia; durante o percurso atuavam músicos e cantores.

Os Egípcios acreditaram numa vida para além da morte. Em princípio esta vida estava apenas acessível ao rei, mas após o Primeiro Período Intermediário esta concepção alargou-se a toda a população. Para aceder a esta vida era essencial que o corpo do defunto fosse preservado, razão pela qual se praticou a mumificação.

Segundo crenças egípcias, para se conseguir a vida eterna, o morto deveria mostrar que não tinha pecados. Então, seu coração era colocado numa balança, tendo de se equilibrar com a "pena da verdade". Caso tivesse sucesso, o morto seria julgado puro. Caso não, seria levado à destruição eterna.

Ciência

Não se pode falar em ciência no Antigo Egito (e em geral na Antiguidade) tendo como referência o conceito atual. O conhecimento entre os antigos Egípcios estava associado aos escribas, às classes sacerdotais e aos templos. Numa parte destes encontravam-se as "Casas de Vida" (Per Ankh), nome dado a uma área do templo que funcionava como biblioteca e arquivo, onde também se ministravam conhecimentos e se copiavam os textos de caráter médico, astronômico e matemático. Tendo em vista que a religião era um dos pontos no qual assentava a civilização do Antigo Egito, a sua influência estende-se e mistura-se com a esfera do saber, que não surgia como autônoma.

A medicina foi a disciplina que mais se desenvolveu entre os egípcios, sendo famosa na Antiguidade, em particular entre os Gregos. A classe médica dividia-se entre médicos do povo e médicos reais; alguns médicos trabalhavam como clínicos gerais, enquanto que outros eram especialistas em determinada área. As escolas médicas mais famosas eram as das cidades de Heliópolis e a de Sais. Os remédios eram compostos por vários elementos, na maioria oriundos do reino vegetal, mas recorria-se também a elementos que do ponto de vista contemporâneo parecem estranhos, como os excrementos dos animais, o sangue de lagarto, dente de porco ou pó de natrão. Eram aplicados sob a forma de poção, pílula ou em cataplasma.

No campo das matemáticas, os egípcios utilizavam um sistema de cálculo baseado na mão (cinco dedos). A partir daqui vinham as dezenas, dando origem à numeração decimal que se tornaria a base da aritmética egípcia. Calcularam a superfície dos retângulos e o volume da esfera, dando a pi o valor de 3,14. Conhece-se hoje em dia esta matemática graças ao Papiro Rhind e ao Papiro de Moscovo.

Literatura

De uma forma geral, as obras literárias do Antigo Egito eram anônimas; a literatura do Antigo Egito inclui textos de caráter religioso (como os hinos às divindades), mas igualmente obras de natureza mais secular, como textos sapienciais, contos e poesia amorosa.

Datam da época do Império Antigo os primeiros textos de literatura sapiencial, um gênero que consistia numa reflexão dos "sábios" (vizires, escribas) sobre a vida, pretendendo transmitir determinados ensinamentos e apelando à prática de certas virtudes (moderação, justiça, o respeito aos pais...); deste gênero destaca-se o Ensinamento de Ptah-hotep, que em trinta e seis máximas expõe as reflexões do seu autor (um vizir) sobre as relações humanas.

Do Primeiro Período Intermediário salienta-se a Profecia de Ipuver, onde autor aborda a decadência política e moral do Egito durante esta era.

Do Império Médio destacam-se os contos, como as Aventuras de Sinué e o Conto do Náufrago. A primeira obra foi provavelmente o texto literário mais popular entre os egípcios, tendo em conta a grande quantidade de cópias do texto que se conhecem. Relata as aventuras do herói homônimo que foge do Egito para a região da Síria-Palestina antes de regressar ao seu país, onde é acolhido na corte de Senuseret III. Para alguns investigadores algumas destas histórias de aventuras podem ter influenciado a literatura árabe, em concreto os relatos sobre as aventuras do marinheiro Sinbad.

Durante o Império Novo surge a poesia amorosa, com temas de paixão e erotismo presente nos textos do Papiro Cester Beatty I, do Papiro Harris 500 e num fragmento do Papiro de Turim. Akhenaton cultiva a literatura religiosa, com hinos dedicados a Aton. Prossegue a tradição da literatura sapiencial, com o Ensinamento de Anii e o Ensinamento de Amenemope.

Arte

Bursto A arte do Antigo Egito esteve fundamentalmente ao serviço da religião e da realeza. Esta arte obedeceu a cânones precisos ao longo dos seus três mil anos de existência, sendo desvalorizada a inovação.

Uma das regras mais importantes seguidas pelos artistas era a lei da frontalidade, segundo a qual na figura humana o tronco era representado de frente, enquanto que a cabeça, pernas, pés e olhos de perfil.

Do Império Antigo notabilizaram-se as pirâmides, mas também deve ser realçado o baixo-relevo e a pintura que já na época possuíam um elevado grau de perfeição. O Império Novo corresponde à era mais brilhante da arte, fruto da riqueza do Egito durante este período. São desta época os templos de Karnak e Luxor e os túmulos escavados nas falésias do Vale dos Reis.

Durante o período de Amarna, que corresponde às inovações religiosas de Akhenaton, os artistas rompem com as antigas convenções e aproximam-se de uma arte que almeja o realismo, com representações de afeto entre membros da família real. O próprio Akhenaton é mostrado de uma forma diferente, com o crânio alongado e uma silhueta efeminada; não se sabe ao certo se esta particularidade na representação do faraó seria uma nova tendência artística ou o resultado de algum tipo de deformação congênita de Akhenaton. Foi no "atelier" do escultor de Akhenaton, Tutmés, que foi encontrado em 1912 o famoso busto de Nefertiti, uma obra inacabada.

As formas da arte figurativa egípcia - escultura, relevo e pintura - adquiriram caráter inconfundível por volta do início do período dinástico. Ao mesmo tempo que o nível das formas de arte decorativa e funcional, tais como obras de pintura de motivos, manufatura de vasos de pedra, escultura de marfim, mobiliário e trabalho em metal, era muito elevado, a arquitetura evoluía rapidamente de então em diante, continuando a desenvolver-se com o domínio de novos materiais e a introdução de novas formas. Desde o início, as obras de arte de vários gêneros constituem o mais importante legado do antigo Egito, legado este extraordinariamente homogêneo. As alterações na arte ao longo dos diferentes períodos refletem as alterações na sociedade clarificam-nas, embora a arte procure a sua inspiração mais noutra arte do que no mundo. A arte egípcia é superficialmente abordável, mas a outro nível, é muito estranha à arte ocidental.

Muito poucas obras egípcias foram criadas como "arte pela arte". Todas tinham uma função, ou como objetos de uso diário, ou, o que é mais comum entre os que se conservam, num contexto religioso ou funerário. Tem-se dito, por vezes, que não deviam ser designadas por "arte", mas não existe necessariamente contradição entre o caráter artístico de um objeto e a sua função. Poder-se-ia dizer que a qualidade artística de um objeto é o elemento estético adicional ao seu caráter funcional. O estatuto da arte egípcia como "arte" no espírito dos egípcios era de grau diferente do da arte ocidental aos olhos dos ocidentais, mas não existe diferença fundamentais em espécie. De fato, os gêneros egípcios e ocidentais assemelham-se extraordinariamente. No Egito, tal como na sociedade ocidental, a arte é um importante foco de prestígio.

A escultura foi marcada pela escolha de materiais resistentes, como o basalto,o pórfiro, xisto, diorito e o granito. Algumas estátuas serviram um objetivo político, sendo colocadas diante dos templos para que o povo as visse, mas tinha sobretudo um objetivo religioso. Exprimem de uma maneira geral uma posição fixa, com os braços colados ao corpo (as estátuas egípcias influenciaram as estátuas gregas mais antigas sobre jovens, conhecidas como kouros). As estátuas que se achavam nos túmulos eram consideradas como uma espécie de corpo de substituição; o ka e o ba deveriam reconhecer o rosto onde habitavam, não sendo por isso relevante representar os defeitos do corpo. Algumas estátuas atingiam proporções grandiosas, como a Esfinge do planalto de Guiza e os Colossos de Memnon. Saliente-se ainda a invenção da "estátua-cubo" pelos Egípcios, na qual apenas a cabeça emerge do bloco de pedra.

A óbvia semelhança estilística entre a escultura, o relevo e a pintura baseiam-se, em parte, em técnicas que lhes são comuns. Onde existir razões mais fundamentais para os rígidos êxitos da escultura, uma vez que esta característica se encontra quase tão espalhada pelo mundo como a representação a duas dimensões, sem perspectiva, mas tais razões não são claras. Qualquer que seja a resposta a esta pergunta mais geral, a continuidade e o desenvolvimento paralelo das duas formas são notáveis.

Quase todas as estátuas mais importantes representam uma figura que olha em frente, numa linha perpendicular ao plano dos ombros e cujos membros estão restringidos dentro dos mesmos planos. A maior parte das vezes encontra-se em repouso, sem estar ocupada em nenhuma atividade. A interação orgânica das partes do corpo quase não é indicada, de modo que as estátuas se assemelham a um "diagrama" a duas dimensões, formando um aglomerado de partes separadas. A analogia sugere que este pode ser um aspecto básico da representação e não um elemento de estilo. Parte da semelhança entre os gêneros é devida à dependência da escultura em relação ao desenho, numa versão modificada da representação egípcia normal, a duas dimensões.

As principais exceções à geometria rígida são as cabeças que olham para cima, talvez para ver o sol, ou para baixo, como as estátuas de escribas, para olharem para um papiro desenrolado no colo. As figuras ajoelhadas, têm, por vezes, os músculos das pernas refletidos mostrando, ao que parece, que a sua pese é um gesto momentâneo da deferência. Pormenores como este, e leves indicações da coerência orgânica do corpo, são restritos às melhores obras, em que a rigidez normal é tomada como certa e suavizada, provavelmente por razões estéticas. Existem também algumas obras pequenas, sobretudo de madeira e de finais de 18ª dinastia, que se afastam das regras, representando rotações e contraposto, e mantendo apenas vestígios dos conjuntos normais de eixos de definição. Estas são importantes porque mostram que as formas estritas não eram as únicas de que os Egípcios dispunham.

Nas artes parietais, o baixo-relevo e a pintura andam frequentemente associados. Durante o Império Médio o baixo-relevo surge pintado, enquanto que no Império Novo a pintura tornou-se uma arte autônoma. Os temas mais frequentes da pintura são os retratos de família, as batalhas, os deuses e as paisagens. A cor desempenhava nela uma função informativa: os corpos masculinos são pintados a vermelho-acastanhado e os femininos a amarelo.

É interessante notar que, quando homens comuns são retratados perto de divindades como o faraó, seus olhos são pintados para os lados, e não para a frente, uma vez que a figura sagrada do deus não poderia ser encarada de frente.

Em duas e em três dimensões, a base do trabalho do artista era o desenho preparatório. utilizavam-se grelhas quadradas e conjuntos de linhas de orientação, de modo a assegurar uma representação exata. Para o corpo humano, as grelhas baseavam-se, até à 26ª dinastia, num quadrado do tamanho do punho da figura a desenhar, que se relaciona proporcionalmente com todas as outras partes do corpo. Em teoria, a grelha tinha de ser desenhada de novo para cada figura de tamanho diferente, mas, na prática, as figuras de menos importância eram talvez, muitas vezes, desenhadas livremente. Os desenhos preliminares eram inscritos dentro das grelhas e transformados no produto final por um processo de correção e laboração, em várias fases. É evidente que os artistas trabalhavam em grupos, sendo, provavelmente, especializados em tarefas que realizavam.

O legado do Antigo Egipto

Apesar da civilização egípcia ter terminado há dois mil anos, parte do seu legado continua vivo no mundo atual.

Os Egípcios possuíam um calendário de 365 dias e doze meses e já dividiam o dia em vinte e quatro horas. Algumas palavras da língua portuguesa, como alquimia, química, adobe, saco, papel, gazela e girafa, têm origens na língua egípcia. De igual forma, certas expressões, como "anos de vacas magras", são também de origem egípcia. As crianças do Antigo Egito já brincavam a "macaca", tal como o fazem as crianças de hoje em dia, e os adultos apreciavam um jogo de tabuleiro, conhecido como Senet.

A nível arquitetônico, estão presentes no mundo contemporâneo certos elementos da arquitetura do Antigo Egito como o obelisco, que os Egípcios consideravam como um raio do sol petrificado. Ele está presente em várias cidades mundiais, como Buenos Aires ou no Monumento de Washington nos Estados Unidos da América. Outras cidades possuem mesmo obeliscos que foram trazidos do Antigo Egito (Place de la Concorde em Paris, Praça de São Pedro no Vaticano...). A construção piramidal, associada ao Antigo Egito, encontra-se também em edifícios como a Pirâmide do Louvre de Paris ou o Luxor Hotel de Las Vegas.

Alguns símbolos da alquimia são de origem egípcia, como a serpente ouroboros e a ave fênix. O papiro dos egípcios foi o antepassado do papel dos nossos dias.

Mas será porventura no domínio da religião e da espiritualidade que o legado do Antigo Egito está mais presente. Embora já não se veja na experiência religiosa de Akhenaton um monoteísmo puro nascido antes do monoteísmo dos Hebreus, não deixa de ser curiosa a semelhança entre versos do Grande Hino a Aton escrito por Akhenaton com o salmo 104 da Bíblia. Os Egípcios acreditavam na necessidade de levar uma vida pautada por uma conduta ética de modo a assegurar uma vida no Além, um conceito presente em várias religiões dos nossos dias. O relato da morte e ressurreição do deus Osíris, lembra a própria morte e ressurreição de Jesus Cristo, no qual assenta o cristianismo. A Igreja Copta, que reúne a maioria dos cristãos do Egito, usa como símbolo a cruz ansata ou ankh, símbolo da vida no Antigo Egito. Segundo Heródoto, os sacerdotes egípcios praticavam a circuncisão e dedicavam alguns dias do ano ao jejum, dois elementos que estão presente em religiões como o judaísmo e o islão. Para além disso, os movimentos esotéricos e ocultistas tem também o Antigo Egipto como referência, apropriando-se de elementos e símbolos desta civilização.

Fonte: Wikipédia

Um comentário:

Anônimo disse...

os ricos eram tambem julgados como os pobres? gostaria de saber porquer existia esse tipo de julgamento antes?que as pessoas depois de morta ainda era tratada como se tiverse viva.e muitos deles eram arrancado seus corações,quando não eram puro era sua destruição eterna.